Por Cintia Salomão Castro
No campus da Cidade Universitária da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), a equipe do Laboratório de Fisiologia Endócrina Doris Rosenthal desenvolve, há vários anos, pesquisas pioneiras envolvendo o estudo da glândula tireoide. Os diversos aspectos estudados vão desde o controle do peso corporal a regulação da captação de iodo, refletindo uma abordagem multidisciplinar adotada desde os anos 1990, conforme explica a chefe do Laboratório, a médica e doutora em Ciências Denise Pires de Carvalho.
“No começo, os pesquisadores conduziam principalmente estudos sobre o uso do iodo radioativo e bócios. Hoje, realizamos estudos multidisciplinares, relacionando a tireoide ao controle do peso corporal, ao gasto energético e à ingestão alimentar, por exemplo”.
A equipe conta com especialistas de diversos setores – favorecendo uma ampla abordagem. Além de endocrinologistas, há biomédicos, fisioterapeutas, farmacêuticos, biólogos, nutricionistas e profissionais de educação física.
Histórico
As origens do Laboratório de Fisiologia Endócrina Doris Rosenthal remontam aos anos 1950. Na época, o diretor Prof. Eduardo Pena Franca criou uma unidade clínica de radioisótopos no Instituto de Biofísica, dentro da Faculdade de Medicina da então denominada Universidade do Brasil.
Alguns anos depois, criou-se o laboratório de Medicina Nuclear, sob a responsabilidade de Luiz Carlos Lobo. Nesta fase inicial, o local já funcionava como um dos núcleos pioneiros na implantação de metolodologia de avaliação da função tireoidiana com radioiodo. A existência de outras linhas de pesquisa relacionadas a aspectos fisiológicos e fisiopatológicos da tireoide motivaram a mudança do nome para Laboratório de Fisiologia Endócrina, a partir de 1976.
O pioneirismo científico foi mantido sob a chefia da endocrinologista Doris Rosenthal (1973 – 2002), profissional que deu nome ao laboratório e que, apesar de aposentada, continua oferecendo sua experiência à equipe.
A parceria com o Serviço de Endocrinologia do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho, a partir do final da década de 1990, levou o laboratório a atuar no campo dos estudos translacionais. Ou seja, passou-se a estudar moléculas para uma terapia futura para o paciente. Um exemplo disso é a análise da captação de iodo pela glândula, a qual é fundamental não somente para produção dos hormônios como para tratar o paciente que tem câncer ou a doença de Graves.
“Estudamos mecanismos moleculares que aumentem a entrada do iodo na célula. Analisamos desde vias dentro da célula tireoidiana que regulam a captação, até substâncias que estão no meio ambiente que a regulam. Vimos recentemente que algumas isoflavonas (substâncias contidas em plantas que servem de base para medicamentos usados na reposição hormonal feminina) estimulam a captação de iodo, enquanto outras a inibem” – esclarece a Dra. Denise de Carvalho.
Em Andamento
Existem, atualmente, diversos projetos em andamento. Um deles é uma parceria envolvendo pesquisadores do Instituto de Bioquímica Médica da UFRJ, com o objetivo de estudar termogênese, hormônios da tireoide e obesidade.
Outro estudo pioneiro, junto ao Ministério da Ciência e Tecnologia, é a avaliação de uma população ribeirinha da Amazônia, que apresenta um alto índice de contaminação por mercúrio (devido aos garimpos) e deficiência de ferro (causada pela malária). Serão verificados os efeitos dessas condições sobre o metabolismo da tireoide. Os efeitos do esteroide sexual (um tipo de hormônio) sobre a função tireoidiana também são objetos de estudo da equipe multidisciplinar.
As várias pesquisas podem ser divididas em três grupos básicos: o que contempla os efeitos de xenobioticos sobre a função da tireoide; o que estuda o controle do peso corporal pelos hormônios da tireoide; e o que analisa a regulação da função da tireoide pelo iodo. Os dois modelos experimentais usados são o in vivo (uso de ratos) e o in vitro ou ex vivo (cultura de células).
Apoio
O Laboratório de Fisiologia Endócrina Doris Rosenthal conta com o apoio do INCT (Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para Pesquisa Translacional em Saúde e Ambiente na Região Amazônica-INPeTAm); da FAPERJ (Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro); da Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior); do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) e do PRONEX/FAPERJ (Programa de Apoio a Núcleos de Excelência).