Existem muitas dúvidas dos pacientes, relacionadas a distúrbios da tireoide, como o hipotireoidismo, nódulos, perda de peso, etc. Para esclarecer o que é mito e o que é realidade, a Dra. Laura Ward, ex-presidente do Departamento de Tireoide da SBEM (2011/2012), listou várias questões e os esclarecimentos.
(1) Hipotireoidismo engorda.
Mito: Embora o ganho de peso seja uma das manifestações clínicas do hipotireoidismo, existem muitos pacientes portadores da disfunção da tireoide que não apresentam esta queixa. Quando ocorre, o ganho de peso é pequeno, de cerca de 2Kg, e o tratamento reverte totalmente este efeito do hipotireoidismo.
(2) Hipotireoidismo causa depressão.
Verdade: Metade dos pacientes com hipotireoidismo apresentam sintomas depressivos e até mesmo depressão, e um terço dos pacientes com depressão têm hipotireoidismo. Os hormônios tireoidianos agem nos sistemas noradrenérgico e serotoninérgico que são importantes para o humor, assim como em várias áreas do cérebro, sendo importante para memória, raciocínio, libido, sono-vigília, entre outros. Portanto pacientes com hipotireoidismo devem ser avaliados quanto à alteração de humor e pacientes com depressão devem ter a função tireoidiana avaliada.
(3) Hipotireoidismo faz perder cabelos.
Verdade: Tanto o hipotireoidismo quanto o hipertireoidismo podem ser causas de queda de cabelo. Estas alterações da tireoide podem ser diagnosticadas através de exames laboratoriais. O tratamento correto das doenças da tireoide pode corrigir a perda capilar.
(4) Hipotireoidismo atrasa o metabolismo.
Verdade: Pessoas com hipotireoidismo sofrem a redução da sua atividade metabólica. Sendo assim, o organismo gasta menos energia, além de reter mais sal e água, provocando o inchaço.
(5) Hipotireoidismo não afeta a qualidade de vida.
Mito: Se não tratado ou tratado de forma inadequada o hipotireoidismo vai alterar de forma importante a qualidade de vida, pois causa infertilidade, cansaço, sonolência, alterações humor e memória e ganho de peso o que com certeza prejudica o desempenho no trabalho, no lazer e atividade intelectual.
(6) Todo nódulo de tireoide é câncer.
Mito: O principal sinal do câncer de tireoide é um caroço (nódulo) na tireoide, porém em boa parte dos casos, esse tumor não apresenta qualquer sintoma. É comum o médico descobrir o nódulo durante um exame físico de rotina. O diagnóstico do câncer de tireoide é feito com uma biópsia do nódulo de tireoide ou após sua remoção por cirurgia. Mas a maioria dos nódulos é benigna.
Estima-se que 60% da população brasileira tenham nódulos na tireoide em algum momento da vida, sendo que a maioria dos nódulos é benigna.
(7) Hipotireoidismo só surge em mulheres.
Mito: O hipotireoidismo atinge pessoas de ambos os sexos e de todas as idades. Porém, certos grupos são mais vulneráveis:
– Mulheres, especialmente acima dos 40 anos.
– Pacientes previamente submetidos a rádio ou iodoterapia.
– Pessoas que já tiveram problemas de tireoide.
– Usuários de lítio ou amiodarona.
– Homens acima dos 65 anos.
– Pessoas com histórico familiar de doença autoimune.
(8) Hipotireoidismo pode interferir na função sexual.
Verdade: A doença não tratada pode cursar com diminuição da libido, impotência e diminuir a fertilidade
(9) Só idosos desenvolvem hipotireoidismo.
Mito: Apesar de ser mais comum em pessoas acima de 40 anos, o hipotireoidismo pode ocorrer em todas as fases da vida. Crianças, adolescentes, jovens, adultos e idosos podem ser acometidos pela doença.
(10) Eu posso controlar o hipotireoidismo com alimentação.
Mito: Pacientes com hipotireoidismo podem se beneficiar de uma dieta mais específica para a redução de sintomas comuns à doença como inchaço, fadiga, enfraquecimento de unhas e cabelos, ao mesmo tempo em que ajuda na redução ou manutenção do peso. Porém, nenhum alimento, suplemento alimentar nem qualquer fórmula é capaz de substituir o tratamento clínico da doença.
(11) Alimentação ajuda na redução dos sintomas do hipotireoidismo.
Verdade: Existem alimentos e nutrientes que podem contribuir para uma melhor qualidade de vida para os pacientes de hipotireoidismo e também alguns que devem ser evitados. O consumo excessivo de sal, por exemplo, pode ser nocivo porque o sal de cozinha é iodado por força de lei com o intuito de prevenir o déficit de iodo. O excesso de sal pode prejudicar a tireoide. Uma dieta saudável para pacientes com hipotireoidismo inclui grãos integrais, alimentos naturais, castanhas, abundância de frutas e vegetais e uma boa oferta de proteínas magras. Importante lembrar que, no hipotireoidismo, a boa alimentação deve ser sempre associada ao tratamento clínico.
(12) Todo mundo que tem hipotireoidismo, tem um “papo” no pescoço.
Mito: Existem algumas formas (causas) de hipotireoidismo e nem todas apresentam o bócio (“papo”). Além disso, em geral, os outros sintomas da doença normalmente levam o paciente a procurar ajuda médica antes que a doença progrida até este ponto.
(13) Mulheres com hipotireoidismo não podem engravidar.
Mito: Doenças da tireoide não tratadas podem levar a problemas de fertilidade em ambos os sexos. Tanto o hipotireoidismo quanto o hipertireoidismo podem atrapalhar também a manutenção da gestação.
Destaca-se, porém, que caso a mulher já tenha sido diagnosticada com hipotireoidismo e venha controlando a doença, as chances de engravidar e ter uma gestação saudável são equivalentes às de uma mulher que não tenha a doença.
(14) Hipotireoidismo pode causar distúrbios neurológicos em crianças.
Verdade: O hormônio da tireoide é fundamental para o desenvolvimento do cérebro do bebê. As crianças que nascem com hipotireoidismo congênito (sem função tireoidiana ao nascer) podem ter sérias sequelas cognitivas, neurológicas e de desenvolvimento, caso o problema não seja identificado e controlado precocemente.
(15) Hipotireoidismo pode ser detectado pelo Teste do Pezinho.
Verdade: Retira-se uma gota de sangue do pé do bebê no terceiro dia de vida. O exame ajuda a verificar se a tireoide do bebê está funcionando bem, além de atestar a ocorrência de outras doenças. Se o hipotireoidismo congênito for controlado de forma adequada e precocemente, a criança leva uma vida normal.
(16) Tomar hormônio tireoidiano é bom para emagrecer.
Mito: Não. É absolutamente contraindicado e perigoso para a saúde o uso do hormônio tireoidiano sem o diagnóstico de hipotireoidismo. O excesso de hormônios acelera a reabsorção do cálcio do osso, o que leva ao enfraquecimento do esqueleto, além de arritmias cardíacas que eventualmente podem ser até fatais.
(17) Todo nódulo na tireoide precisa ser operado.
Mito: A maior parte dessas alterações é benigna, logo, não precisam ser removidas. Porém, caso o médico suspeite de um câncer, a cirurgia pode ser indicada.
(18) Hipotireoidismo reduz o desempenho físico.
Verdade: Devido à redução do metabolismo, quem sofre com o distúrbio da tireoide ‘funciona’ mais lentamente. Com isso, tanto as atividades físicas, especialmente em atletas profissionais, quanto o desempenho sexual e intelectual ficam comprometidos. Daí a dificuldade para trocar a caminhada pela corrida, por exemplo, e raciocinar ou tomar decisões mais rapidamente. A boa notícia é que a reposição hormonal reverte todos esses sintomas.
(19) Há riscos do hipotireoidismo na gestação.
Verdade: Para uma gravidez tranquila é essencial que a glândula funcione direito, especialmente nas 12 primeiras semanas, período em que alguns hormônios da futura mãe diminuem e outros passam a ser fabricados, a placenta começa a se formar e o bebê desenvolve seus principais órgãos. O hipotireoidismo não controlado adequadamente pode causar parto prematuro, defeitos neurológicos, QI abaixo do normal, surdez e até aborto.
(20) É importante fazer ultrassom uma vez por ano para ter o diagnóstico de câncer de tireoide.
Mito: O exame é bastante sensível e, por isso, acaba rastreando até mesmo os nódulos que não são malignos e, com isso, pode levar a preocupações desnecessárias. O melhor teste para diagnosticar disfunções tireoidianas é a dosagem de TSH, feita a partir do sangue e que deve ser colhido pela manhã.