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Terapia Combinada Liotironina + Levotiroxina

By 17 de agosto de 2021setembro 20th, 2021No Comments

A medicação de escolha para o tratamento do hipotireoidismo é a levotiroxina (LT4) e o controle do tratamento, em geral, é realizado por meio da avaliação clínico-laboratorial, principalmente com a dosagem das concentrações séricas do hormônio estimulador da tireoide (TSH), conforme recomendam várias sociedades médico-científicas mundiais.

Mas, se está estabelecido que o tratamento deve ser realizado com LT4, por que a terapia combinada liotironina (LT3) + LT4 continua sendo discutida em tantos congressos e reuniões científicas? Essa é uma questão que a Dra. Glaucia Mazeto, diretora do Departamento de Tireoide da SBEM, tentou esclarecer.

Segundo a médica, provavelmente, por vários motivos, tais como, por exemplo, o fato de existir um racional para o uso da LT3. Ela explicou que, do ponto de vista fisiológico, devido à ação da deiodinase tipo 2, a LT4 seria capaz de manter maiores concentrações de triiodotironina (T3) no hipotálamo/hipófise, suficientes para promover a redução do TSH, mas talvez não nos demais tecidos-alvo.

A endocrinologista destacou que de fato, alguns pacientes tireoidectomizados e em monoterapia com LT4 apresentam concentrações séricas baixas de T3. Além disso, alguns pacientes, apesar de laboratorialmente controlados com o tratamento, ou seja, com TSH dentro da faixa de referência, apresentam manifestações clínicas que poderiam ser compatíveis com hipotireoidismo descontrolado. Ademais, certos estudos têm obtido alguns resultados promissores com o uso de LT3+LT4 em relação a determinadas queixas imputáveis ao hipotireoidismo. Destaque, porém, para o fato de que os pacientes que poderiam se beneficiar da combinação LT3+LT4 não necessariamente seriam esses com níveis mais baixos de T3 sérico. Outro motivo ainda para essa discussão continuar ocorrendo é que alguns médicos têm, de fato, prescrito esse tratamento, informou a Dra. Glaucia.

Porém, apesar do exposto acima, ainda existem vários obstáculos para o uso de LT3+LT4, tais como, por exemplo, a dificuldade em selecionar quais os pacientes que se beneficiariam dessa abordagem. A Dra. Glaucia informou que isso ocorre porque a lista de condições que poderiam ser as responsáveis pela manutenção das queixas sugestivas de hipotireoidismo, apesar do TSH normal, é muito grande.

“Nesse sentido, têm sido associadas a essas manifestações algumas causas endócrinas/autoimunes (diabetes mellitus, insuficiência adrenal, hipopituitarismo, etc), hematológicas (anemia, mieloma múltiplo), nutricionais (deficiências de ferro, vitaminas D ou B12, etc), metabólicas (obesidade, hipercalcemia, etc), medicamentosas (betabloqueadores, estatinas, etc), comportamentais (hábitos de sono, estresse, ingestão alcoólica, etc), entre outras.”

A especialista destacou também que outro obstáculo é a dificuldade de monitoramento laboratorial durante o eventual tratamento, uma vez que a interpretação das concentrações de TSH pode ser complexa e as de T3 apresentam grande variação nas 24 horas. Além disso, a dosagem fisiológica é difícil de atingir, sendo que o ideal seria a utilização de formulações de liberação lenta, o que ainda não temos disponível.

Ela ressaltou ainda que, no Brasil, atualmente, não existem quaisquer preparações comerciais disponíveis e que é conhecido o enorme risco da manipulação de hormônio tireoidiano, a qual não deve ser realizada. Por fim, apesar de alguns resultados promissores relatados, ainda são escassos os estudos com desenhos e condução adequados que permitam estabelecer com segurança para quem, quando e como utilizar e acompanhar a terapia com LT3+LT4.

“De fato, um recente consenso promovido por uma série de experts mundiais, objetivou, especificamente, orientar quanto à realização de estudos mais bem elaborados, que permitam conclusões clinicamente relevantes. Dessa forma, e neste momento, na abordagem do hipotireoidismo, a terapia combinada LT3+LT4 ainda não deveria fazer parte da rotina da prática clínica”, concluiu a endocrinologista.