Um dos momentos importantes do Encontro Brasileiro de Tireoide é o Prêmio EBT, entregue a especialistas que tenham dado grande contribuição à tireoidologia brasileira. A Dra. Laura Ward, presidente da Comissão Científica do 14º EBT, apresentou o vencedor de 2010: Dr. João Hamilton Romaldini. Ela fez um relato de trajetória científica do endocrinologista, que é transcrita aqui:
Prêmio EBT 2010 – Dr. João Hamilton Romaldini
Este prêmio foi instituído em 2006 para homenagear os grandes nomes da tireoidologia brasileira àqueles indivíduos que trabalham para o desenvolvimento da pesquisa na área da tireoide no nosso país, com produção científica relevante, que contribuíram na formação de recursos humanos e que são formadores de opinião. O Professor Romaldini é um perfeito exemplo de quem representa este prêmio e nada mais justo do que homenageá-lo, contando um pouco das razões para tal homenagem.
O Professor Romaldini tem um lado italiano que deve ter sido a razão de querer ir para Pisa, na Itália, onde foi o primeiro fellow do Instituto de Endocrinologia da Universidade de Pisa, sob orientação de Aldo Pinchera, colaborando com os também recém chegados a Pisa, Ênio Martino, Gian Franco Fenzi e Lúcia Grasso. Por quase três anos deu início a diversos estudos da imunopatogênese da Doença de Graves, principalmente, da ação dos anticorpos anti-receptor de TSH (LAT, TSAb ou TRAb).
Voltando ao Brasil, o Professor Romaldini organizou o Laboratório de Endocrinologia do HSPE e o Laboratório de Pesquisa de Tireoide junto ao serviço de patologia. Neste período estimulou a formação para pesquisa de diversos alunos que, hoje, contribuem, ativamente, na ciência brasileira, em outras Universidades e Instituições, especialmente, na tireoide, além de participarem na continuidade do EBT e do nosso Thyroid Club (Clube da Tireoide). Neste laboratório, desenvolveu os primeiros ensaios, em nosso meio, de RIA para TSH sérico, imunoradiométrico para anti-Tg e anti-TPO, além de radio bioensaio com células tiroidianas, para determinação de TRAB no soro de pacientes com Doença de Graves, os quais estão presentes em várias publicações deste grupo.
Na mesma época, manteve estreita colaboração com o Instituto de Ciências Biomédicas da USP, no Departamento de Farmacologia (Profs. Luiz Biela e Ricardo Oliveira) e no Departamento de Fisiologia e Biofísica (Prof. Rui Curi), com várias publicações relacionadas ao metabolismo dos hormônios da tireoide.
Em 1980, ingressou na Faculdade de Ciências Médicas da PUC-CAMPINAS e, desde 1984, é Titular do Departamento de Endocrinologia.
Em 1983, acumulou o cargo de diretor do Serviço de Endocrinologia do HSPE-IAMSPE, em São Paulo, conduzindo uma série de pesquisas clínicas, relacionadas à Doença de Graves e doenças auto-imunes da Tireoide. Os pontos mais importantes foram quanto ao pioneirismo no uso de elevadas dose de drogas antitiroidianas com obtenção de alto índice de remissão na assim chamada “Block-replacement Therapy”.
O grupo ressalta que este regime, pela imunossupressão obtida, também causava elevado efeitos colaterais do PTU e MMI. Contudo, com duas outras publicações, o grupo demonstrou que este regime de altas doses era bastante útil no controle dos pacientes com oftalmopatia e levava a diminuição importante dos autos-anticorpos anti-tireoidianos.
Este grupo, também, foi um dos pioneiros no uso de pulso terapia (com várias sessões de corticoterapia), nos pacientes com Oftalmopatia de Graves. Hoje, este esquema terapêutico, com pequenas alterações nas doses é talvez o mais eficiente dos tratamentos para a oftalmopatia de Graves.
Com o grupo da PUC-CAMPINAS, e no estudo dos hipotireoidismo e nas doenças subclínicas há mais de 10 anos, o Professor Romaldini publicou um dos primeiros papers (1996) em terapia com L-T4 para pacientes com Tireoidite de Hashimoto. Ele mostrou sua utilidade na redução das lipoproteínas no soro, do volume do bócio e na diminuição da concentração de TSH, mas bastante duvidoso em pacientes com hipotireoidismo subclínico. Controvérsia que persiste até hoje.
Já na área do hipertireoidismo subclínico endógeno, o Professor Romaldini em conjunto com Augusto Sgardi, da Universidade de Marília, foram os primeiros a comprovarem a eficácia do tratamento precoce desta moléstia, em relação ao sistema cardiovascular.
Na Puc-Campinas, o Professor Romaldini impulsionou a formação de vários indivíduos e a colaboração com Laboratório de Genética Molecular do Câncer, sob minha direção. Tive o privilégio de co-orientar com o Professor Romaldini vários alunos e produzimos um número grande de trabalhos em hipotireoidismo subclínico e na imunogenética da Doença de Graves. Na apresentação do Professor Romaldini alguns dos resultados destes trabalhos foram apresentados.
Mas não posso deixar de mostrar a vocês a lista das inúmeras contribuições do Professor Romaldini para tireoidologia brasileira, científicas e como membro, sempre muito atuante, e presidente das nossas sociedades SBEM e LATS.
- Título de Doutor em Medicina, 1974, EPM São Paulo
- Orientações de teses, 23
- As datas de atividades como presidente da SLAT:
- 1982-1990 Secretário tesoureiro
- 1991-1993 Vice Presidente
- 1993-1995 Presidente
- POC ITC Kyoto Japão
- Revisor de 9 revistas científicas
- SBEM presidente 1997-199
- Prêmio LATS, 2003
- Prêmio Associação Endocrinologia Pisana, Universidade de Pisa, 2006
- Prêmio contribuição a pesquisa, docência e formação de discípulos em endocrinologia, COPEM 2003