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Área CientíficaArtigosDistúrbios da Tireoide

Imunoterápicos e Disfunções Tireoidianas

By 8 de maio de 2020setembro 11th, 2020No Comments

Recentemente foi divulgado um artigo sobre um estudo relacionando o uso de inibidores de checkpoint imunológicos no tratamento do câncer com as disfunções tireoidianas. Os dados foram apresentados durante uma coletiva de imprensa online, no final de março, que estava agendada para acontecer na reunião anual da Endocrine Society.

Os imunoterápicos e, em especial os inibidores de checkpoint imunológico, revolucionaram o tratamento de muitos tipos diferentes de câncer trazendo novas esperanças aos pacientes, explica a Dra. Laura Ward. Embora não sejam efetivos em todos os tumores, têm sido cada vez mais utilizados em melanomas, câncer de pulmão de não-pequenas células e vários outros tipos de câncer.

– Eles podem ser combinados com outras terapias alvo-dirigidas, com quimioterápicos e radioterapia, e têm se mostrado particularmente úteis em casos avançados e em pacientes que não respondem ou não suportam terapias mais agressivas.

Segundo a endocrinologista, esses imunoterápicos têm, em geral, menos efeitos colaterais e são muito menos agressivos do que os métodos mais tradicionais do tratamento oncológico. Porém, eles também podem desencadear uma variedade de eventos adversos relacionados ao sistema imunológico.

– Conforme esses medicamentos são mais amplamente utilizados, a tendência é que o aparecimento desses efeitos se torne cada vez mais comum, em comparação com os resultados encontrados nos ensaios clínicos. Entre as complicações mais frequentes estão as endócrinas, em especial as tireoidianas.

A incidência de complicações da tireoide é variável e vai depender muito do tipo de imunoterápico escolhido (mais comum com anti-PDL 1 do que anti-CTLA4). Ocorrem em média após dois a quatro ciclos de droga e os sinais clínicos são geralmente inespecíficos. Frequentemente se confundem com quadros de base do paciente (fraqueza, alteração de peso, falta de apetite, etc), de modo que é essencial a atenção clínica e a realização de exames complementares periódicos.

Dra. Laura destaca que a etiologia desses distúrbios ainda é bastante discutida, mas acredita-se que possam ser essencialmente secundários a uma tireoidite silenciosa da evolução bifásica: tireotoxicose seguida de aparecimento de hipotireoidismo.

Diagnóstico

A especialista esclarece que o diagnóstico biológico é feito a partir das dosagens de TSH e T4 Livre. Ela acrescenta, ainda, que o tratamento consiste na introdução de terapia sintomática com betabloqueador cardiosseletivo (tireotoxicose) e na inserção rapidamente do hormônio da tireoide (hipotireoidismo).

– As complicações não são uma contraindicação para a continuidade do tratamento imunoterápico. Mas, devido à alta frequência desses problemas, torna-se fundamental o monitoramento rigoroso da função tireoidiana. A orientação é feita pela grande maioria das sociedades oncológicas, incluindo a brasileira. Em 2017, inclusive, a Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica publicou diretrizes para o manejo de toxicidade de inibidores de checkpoint*.

Pesquisas e Perspectivas

Para Dra. Laura, há um avanço nas pesquisas sobre o assunto, e os pesquisadores estão conhecendo cada vez melhor as vias imunossupressoras e imuno específicas de cada processo tumoral.

Ela acredita que, em breve, será possível administrar drogas destinadas não apenas a melhorar a resposta imune sistêmica ampla e não direcionada. Será possível, também, determinar o microambiente imunossupressor causado pelo tumor, concentrando a imunossupressão no microambiente tumoral e identificando novos alvos específicos para as principais vias funcionais envolvidas.

– Com isso, vamos melhorar os regimes de tratamento imunoterápicos e reduzir os efeitos tóxicos e colaterais, de modo a desafiar os enormes problemas de recorrência e metástase no pós-operatório. Nosso grupo de pesquisa vem colaborando com a identificação do microambiente tumoral no câncer diferenciado da tireoide, um tumor que é muito interessante do ponto de vista imunológico, e que é um verdadeiro problema de saúde pública.

*Diretrizes brasileiras de manejo de toxicidades imunomediadas associadas ao uso de bloqueadores de correceptores imunes (Brazilian guidelines for the management of immune-related adverse events associated with checkpoint inhibitors) – Grupo de Trabalho da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica.