Há tempos as mulheres lutam por reconhecimento profissional em diversas áreas. Na endocrinologia, mais especificamente na tireoide, a presença feminina tem se mostrado muito forte e as endocrinologistas têm conquistado cargos importantes nas Sociedades. Essa liderança feminina foi observada na última edição do Latin American Thyroid Congress (LATS), que aconteceu em junho, no Rio de Janeiro.
A Dra. Ana Luiza Maia, membro da diretoria do Departamento de Tireoide da SBEM e presidente eleita do Latin American Thyroid Society (Gestão 2019-2021), destacou que essa realidade tem sido natural para as médicas. Para ela, ocupar essas posições é consequência de um bom trabalho. “Chegamos a esse patamar sem impor nada. No Departamento de Tireoide, inclusive, temos uma sequência de mulheres na presidência, assim como no LATS. Mas é um trabalho em longo prazo que se conquista com modelos e exemplos.”
Confirmando o que a Dra. Ana Luiza enfatizou, nos últimos cinco anos o Departamento de Tireoide foi presidido por uma mulher. Além da Dra. Célia Nogueira, atual presidente, estiveram à frente da Sociedade Dra. Gisah Amaral (2015-2016), Dra. Carmem Moura (2013-2014), Dra. Laura Ward (2011-2012) e Dra. Edna Kimura (2009-2010). Atualmente, a diretoria da instituição conta com um número significativo de mulheres, sendo seis entre os nove membros.
A Dra. Célia contou que, de acordo com a história, a Faculdade de Medicina da USP graduou em 1918 duas mulheres. Apenas em 1960 surgiu a Associação Brasileira das Mulheres Médicas. Hoje o número de graduadas é superior ao de homens. Por isso, para a endocrinologista não é de se admirar que nas últimas gestões do Departamento de Tireoide a presidência tem sido assumida por mulheres. “As próximas gerações já estão se envolvendo em várias atividades departamentais e que talvez pela predominância feminina se mantenha essa característica de chefias serem exercidas por mulheres.”
Segundo a presidente, essa ascensão faz parte da carreira científica. Ela enfatiza que é importante para o reconhecimento profissional e abrangência nacional e internacional, porém, destacou que o objetivo é sempre trabalhar dentro do rigor ético e científico. “Independente do gênero contamos com pessoas compromissadas com a sociedade e que se dispõe a trabalhar arduamente para manter o Departamento dentro de padrões de excelência.”
A atual presidente do LATS, Dra. Denise de Carvalho, esclareceu que essa representatividade feminina na endocrinologia é um fenômeno mundial. A médica relatou que pôde perceber esse fato durante a entrega de prêmios em um evento europeu. Segundo ela, dentro de um grupo de 15 premiados, apenas 3 eram homens. “Quando a sexta mulher subiu ao palco, pensei: deve ser women in endocrinology. Isso é resultado de muito trabalho e anos de preparação”, afirmou a especialista acrescentando que – para ela – a mulher deve ocupar espaço não por força e nem pelo gênero, mas sim pelo mérito e quando estiver preparada.
Para as especialistas, é importante destacar que para a nova geração de pesquisadores e acadêmicos a questão de gênero já não é tão relevante como antigamente. Mas, ainda assim, a sociedade encara essa realidade como uma novidade e as mulheres ainda precisam trabalhar duas vezes mais do que os homens para mostrarem que têm condições de ocupar um cargo de liderança. De acordo com a Dra. Ana Luiza, apesar da força feminina na endocrinologia, ainda há muito o que se conquistar.