Um importante debate sobre a necessidade de um rastreamento universal para as disfunções tireoidianas na gestação vem acontecendo há a algum tempo na endocrinologia. O assunto, inclusive, esteve em evidência no início deste mês de fevereiro com a apresentação da Dissertação de Mestrado da Dra. Tatiana Berbara, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
A endocrinologista, que teve como orientadores o Dr. Mario Vaisman (membro da diretoria nas Gestões 2015-2016 e 2017-2018) e a Dra. Patrícia de Fátima Teixeira (atual vice-presidente do Departamento de Tireoide da SBEM), fez um comparativo entre o rastreio seletivo (onde somente pacientes com critérios de risco deveriam fazer o teste diagnóstico) e o rastreio universal em todas as gestantes para o para o diagnóstico do hipotireoidismo durante o primeiro trimestre de gestação.
A Dra. Patrícia explicou que esse tipo de trabalho é importante para fomentar novas reflexões acerca do assunto. Mas, de que forma um estudo acadêmico como esse pode impactar no atendimento e na saúde do paciente?
Segundo a vice-presidente do Departamento, projetos acadêmicos podem sim ter uma importância prática para o paciente e, também, para o SUS. Os resultados podem, inclusive, ser inseridos em políticas públicas de saúde. “A implementação de diagnósticos ou condutas de tratamento podem surgir a partir dos resultados gerados neste tipo de trabalho. No caso deste projeto específico, é possível evidenciar a importância de dosar o TSH e fazer um diagnóstico na gestante de uma forma universal.”
Atualmente, de acordo com o guideline da American Thyroid Associações (ATA), revisado em 2017, todas as gestantes devem ser avaliadas clinicamente. Porém, a dosagem do TSH é recomendada apenas para as mulheres com os seguintes fatores de risco: história de hipo ou hipertireoidismo, ou sinais de disfunção tireoidiana; positividade conhecida dos anticorpos da tireoide ou presença de um bócio; história de radiação da cabeça ou pescoço ou cirurgia prévia da tireoide; ter mais de 30 anos; ter diabetes tipo 1 ou outras desordens autoimunes; história de perda de gravidez, parto prematuro ou infertilidade; múltiplas gestações anteriores (≥2); história familiar de doença tireoidiana autoimune ou disfunção tireoidiana; obesidade mórbida com IMC ≥ 40 kg / m2; uso de amiodarona ou lítio, ou administração recente de contraste radiológico iodado; resida em uma área de insuficiência de iodo moderada a grave conhecida.
Dra. Patrícia destacou, no entanto, que realizar um trabalho como esse é um processo árduo e longo. O estudo apresentado pela Dra. Tatiana, por exemplo, teve início em 2014 e é apenas uma parte de algo muito maior. “Já temos três estudos publicados nesta linha, e este será o quarto. Ele faz parte do projeto que englobou a pesquisa sobre a situação nutricional de iodo em gestantes no Rio de Janeiro, que mostrou que não é necessário fazer suplementação universal nessas mulheres atendidas pelo SUS, pois elas têm a substância em excesso no no organismo. Esse é só mais um dos trabalhos realizados buscando o aperfeiçoamento dos diagnósticos e tratamentos. ”
A médica acrescentou ainda que diversos guidelines e consensos se baseiam nesses estudos publicados, que servem como base para que as Sociedades possam atualizar as diretrizes das doenças e seus tratamentos. “A Dra. Tatiana defendeu a tese e submeteu o material a nível internacional. É possível que os resultados obtidos possam servir como referência e, assim, dar continuidade a novas pesquisas em favor da melhoria da saúde do paciente.”
Para ilustrar isso, a Dra. Patrícia citou o trabalho realizado pela Dra. Rosita Fontes sobre hipotireoidismo em idosos. Segundo a médica, a partir desta pesquisa foi implementado um novo valor de referência do valor do TSH para esta população. “É importante que essas informações não fiquem restritas às salas de aula das universidades. O objetivo é transferir isso para a prática clínica e melhorar o atendimento ao paciente”, concluiu a endocrinologista.
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